Boi Refletido

“ O folclore não tem dono, ele sofre modificações de região para região”.

Foi este pensamento que deu o pontapé para a criação do Boi Refletido, projeto de iniciativa do Pellinsky, concebido com a intenção de despertar a consciência ambiental, aprofundar pesquisas na área da dança e das manifestações populares, difundir o folclore brasileiro e propiciar o lazer cultural, promovendo o protagonismo juvenil.

Depois de anos dançando variações do Boi- Bumbá de Parintins e do Maranhão, algumas vezes sob críticas dos mais conservadores,em novembro de 2005 o manifesto “a gente não dança errado, dança diferente” tomou forma: uma forma de um boi feito de lata,com uma estrela e um coração no olho e tendo o sol como seu símbolo, o Boi Refletido.

Inspirado no “Seu Teodoro” Freire, maranhense mestre da cultura popular e o principal idealizador do Bumba-meu-boi no Distrito Federal, o Pellinsky uniu elementos do boi-bumbá de Parintins à lendas e costumes do cerrado, explorando a cultura local.

Com a ajuda de professores e historiadores, todo o enredo foi criado. O Auto do Boi conta a saga do Boi Refletido, do Índio Paranoá, da Candanguinha, Lobo Guará, Florzinha do Ipê e muitos outros personagens que contam a história do Planalto Central em ritmo de boi-bumbá.

"É amor, vibração, Refletido és a minha paixão"

LENDA

No ano de 1997, em Brasília, foram apresentados os dois Bois de Parintins do Amazonas aos dançarinos do Grupo Pellinsky de Dança. O Boi Garantindo que tem como símbolo um coração vermelho e o Boi Caprichoso uma estrela azul.

Depois das apresentações ao Grupo ficou, claro para os dançarinos que os Bois eram lindos e com bastantes características em comum: - Cantavam e dançavam o mesmo ritmo, inspirada no Boi Bumbá,encenando lendas da Amazônia. Mas, cada um possuía sua cor. O Garantido vermelho e branco e o Caprichoso azul e branco. Eles tinham também uma grande rivalidade para ver quem era o mais bonito, com isso não conseguiam se entender.

Assim, buscando proclamar a paz entre os Bois, o Grupo Pellinsky, resolveu homenageá-los. Criou um único estandarte vermelho e azul , duas sinhazinhas e vários outros personagens... Saiu então, apresentando-se por toda Brasília e Região do Entorno levando o nome do Parintins do Amazonas onde fosse convidado... Mas nada adiantou, os Bois continuavam enciumados.

Até que em 2005 aconteceu o inesperado: - Dentro de um dos ensaios do Grupo, os Bois, em um duelo se enfrentaram. Tomaram distância, sempre um encarando o outro... Soltaram fumaça pelas ventas... E, numa corrida louca, desenfreada, chocaram-se batendo cabeça com cabeça.

Neste momento saiu uma enorme nuvem de fumaça dourada e, surgindo de dentro dela um Boi maravilhoso todo dourado e vermelho, com um olho em forma de coração vermelho e o outro em forma de estrela azul e com um sol no meio da testa.

Nasce nesse instante o Boi do Cerrado, que saiu cantando, dançando e encantando a todos que assistiam ao Auto do Boi Bumbá, de Mãe Catirina e Pai Francisco, e ele será batizado como o Boi Refletido, o Boi de Brasília.

Quanto ao Boi Garantido e Caprichoso, vão muito bem, continuam rivais, despertando paixões pelo Brasil e pelo mundo.

PERSONAGENS DO AUTO DO BOI

Flor do Cerrado

Sempre formosa, com várias cores e formas diferentes, a Flor do Cerrado é a protetora da Flora. Tem um bailado delicado, como se estivesse emanando energia para que todas as espécies de plantas estivessem protegida por seus encantos...

Lobo Guará

Esse canídeo grande e de aspecto elegante é encontrado na América do Sul. Parece mais uma raposa do que um lobo, devido às suas pernas longas e finas. Tem este nome por causa dos som dos seus uivos - interpretado pelos indígenas como "Gua-á, gua-á". No nosso Boi ele é um Pajé, responsável por toda a fauna. Seu bailado tem que passar força e garra.

Candanguinha

Ele vem com um bailado que representa toda a jovialidade de Brasília, e a arquitetura de linhas, uma arquitetura sofisticada porém simples.

Rainha da Cultura Popular

Representa o caldeirão de misturas culturais que é Brasília. Pessoas de todos os estados brasileiros e representantes politicos de todo mundo. A rainha da Cultura representa a busca da nossa identidade cultural, alegria, beleza e gingado em sua dança.

Pai das Águas - Outro Pajé

Como Cerrado é considerado o berçario da águas, aqui vive o Pajé responsável pelas águas. Sua dança, assim como ele, é bruta, ágil e misteriosa.

Mãe do Ouro

Naquela caverna por onde as águas do rio das Garças desaparece, mora a Mãe do Ouro.
No lusco-fusco da tarde ela sai de seu esconderijo porque não gosta da luz do sol.
Quando os primeiros vagalumes saem zanzando no torpor da tarde que se esvai, a Mãe do Ouro se desentoca da gruta noturna onde mora.
Ela vive no meio da pedraria preciosa, dos brilhantes, ametistas, rubis, berilos, turquesas, safiras, onde tem o seu leito encantado.
Ao sair da gruta, de sua cabeleira luzente, como as estrelas, vão caindo dela pingos de luz pelo chão.
Quando os pingos tocam a terra, transformam-se em pedras preciosas da cor dessa luz.
São pedras igualzinhas às que a Mãe do Ouro tem em seu leito na gruta.
Feliz é a mulher que, ao ver a Mãe do Ouro na sua trajetória pelo céu, enquanto um pingo de luz vai caindo, antes de tocar o chão, fizer-lhe um pedido.
O pedido será atendido, e a mulher passará a pertencer, para sempre, à Mãe do Ouro.
Daí, todas as noites de lua cheia, ao dormir, sem que ninguém perceba, deixará a pele de seu corpo na cama onde está dormindo e sairá para aparecer no Palácio da Mãe do Ouro, lá na gruta, para gozar das festas e delícias permanentes que alí existem: música, canto, dança, amor, alegria.
Ao penetrar na gruta seu corpo é coberto por um traje vaporoso, magnífico.
Mas, embora os trajes sejam vistosos, ricos, translúcidos, ninguém pode falar com a outra, nem se tocar.
Caso tal aconteça, virará carvão.
Embora as grutas sejam profundas, onde a luz do sol não penetra, há muita luminosidade que a pedraria preciosa lhe empresta.
Parece um dia - dia de luz suave e repousante.
Cada salão da gruta é mais bonito do que o outro e cada qual de uma cor.

Florzinha do Ipê

O inverno estava nos seus últimos dias e todas as árvores da floresta estavam começando a florescer, somente os ipês que continuavam sem flores e cada vez mais se entristeciam com aquela situação.
Os canários perceberam a tristeza dos ipês e resolveram fazer ali, nos seus galhos, seus ninhos. Os ipês pediram à misericórdia Divina para que lhes enchessem de flores e pudessem de alguma forma agradecer a alegria que os canários haviam levado. E no dia seguinte, com o mais belo azul traçando o horizonte, os ipês floresceram em diversas cores.

"Era agosto... e assim foi e sempre será.
Os ipês florescem e florescerão sempre.
É por essa razão que, em todos os lugares do Brasil,
em agosto, os ipês florescem em suas cores variadas e
o vento sopra mais forte.
Foi um milagre do AMOR... " (trecho original da lenda).

Índio Paranoá

Paranoá, o índio apaixonado

‘‘Conta a lenda que tudo começou quando um curumim da tribo dos goiases, que viviam no Planalto muito antes dos primeiros bandeirantes, abandonado pelos pais, recebeu uma grande missão de Tupã. Teria esse índio, cujo nome era Paranoá, a missão de levar uma vida casta, à espera de uma bela mulher que, junto com ele, renovaria o sangue dos goiases que estavam em debandada para outras terras. O pobre índio recebeu essa difícil incumbência, solitário, porém resignado, pois sabia que Tupã jamais faltara com o prometido. E assim passou anos e anos à espera da prometida, sem conhecer o amor de outras mulheres. Até que um belo dia, já homem formado, Paranoá, enquanto se refrescava num caiabu, ouviu um grande trovão. A mata estremecia, o cerrado estremecia, como a golpes de machados. Era a anunciada por Tupã que chegava: Brasília, uma bela mulher alada, mas bela e diferente das demais. Jaci (a Lua) que durante todos esses anos amou em silêncio Paranoá, presenciava o encontro. Vendo a possibilidade de perder para sempre o seu amor, colocou-se entre os dois e pela última vez refletiu-se nos olhos de Paranoá e partiu lastimando o seu amor impossível. Ele, por ela fascinado, fixou seu olhar na Lua e se viu apaixonado. Tupã, irado, ante a indecisão de Paranoá, que não soube merecer a anunciada, transformou-o num lago de braços abertos, sem contudo poder jamais abraçar aquela que tanto esperara. Brasília permaneceu no Planalto alheia ao destino do guerreiro, enquanto a Lua, sua amada, jamais o esqueceu e o contempla lá de cima, nas noites de luar.’’